«Segundo ele [o discurso da coroa] o País floresce, enriquece, e o Paraíso está ainda mais perto que a Outra Banda.
Há só um ponto negro que assusta o discurso da coroa: é a questão da fazenda. No entanto, o discurso da coroa, cada vez que aparece em público, promete resolver a questão da fazenda.
Todos têm visto, decerto, um pequerrucho jogando a bisca com um irmão mais velho. O pequeno, se tem mau jogo, deita as cartas sobre a mesa, baralha, ri, confunde, grita:
- Desta vez não valeu, vamos a outro!
Mas se o jogo que lhe volta à mão é pior:
- Abaixo! - grita de novo. - Este também não valeu. Agora é que é a sério!»
Julho 1871
Eça de Queiroz, Uma Campanha Alegre
«Nunca como hoje me senti verdadeiro e capaz ao dizer-vos que o CDS está preparado para ser o Governo de Portugal.»
Maio 2011
Paulo Portas
«Portugal vai ter eleições decisivas. Desta vez é a sério.»
Maio 2011
José Sócrates
Agora é que é a sério, não é, senhores políticos? Agora é de vez! Nunca antes estivemos tão preparados. E, quando estivermos no poder, não vamos dizer que não valeu. Desta vez, não!
E, como o irmão mais velho, somos condescendentes. Aceitamos, calados, que o pequerrucho nos dê a volta uma, e outra, e mais outra vez com as suas falsas promessas.
Mas haja paciência! Há um momento em que é preciso dizer basta. Há um momento em que é preciso «atirar furiosamente à cabeça do pequerrucho o baralho de cartas amarrotadas.»
1871. 2011. Continuamos na mesma.
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