domingo, 1 de maio de 2011

“Torre de Tandil” não abanou no Jamor

Juan Martin Del Potro foi o grande vencedor do Estoril Open 2011. Aos 22 anos, o jovem argentino que em 2009 ganhou o seu maior título no Open dos Estados Unidos conquistou o seu nono troféu no circuito profissional, numa semana quase perfeita, na qual perdeu somente um set. Há 12 meses atrás, Del Potro encontrava-se a meio da recuperação a uma gravíssima lesão no pulso e houve mesmo quem duvidasse que o tenista das pampas alguma vez voltaria ao nível que no inicio de 2010 fez dele o quarto melhor jogador do mundo. 



O Jamor serviu de primeira abordagem à terra batida para o natural da cidade argentina de Tandil, que não pisava competitivamente o pó de tijolo desde as meias-finais de Roland Garros em 2009. Apesar da desconfiança que pairava em seu torno depois de uma época de piso rápido americana extremamente desgastante, Juan Martin chegou a Portugal com um natural estatuto de estrela, apresentado como uma das principais atracções do Estoril Open. 

Só Pedro Sousa lhe roubou um set

Pedro Sousa, incontornavelmente um dos tenistas mais talentosos que o nosso país já viu nascer, passou pela primeira vez a qualificação no Estoril Open, num épico embate que chegou a parecer perdido, e o sorteio dos qualifiers ditou que teria a oportunidade de defrontar Del Potro. O lisboeta não se acanhou e embora tivesse dito que não levar uma “bicicleta” (0-6 0-6) já não seria mau, ofereceu ao público que compôs as bancadas um dos maiores espectáculos da semana, colocando em prática todo o seu ténis espectacular e mostrando ao mundo do ténis todas as suas qualidades. O argentino ainda chegou a tremer, mas triunfou por 6-2 3-6 6-3.



“O Pedro tem um ténis muito lindo e pode ser um grande jogador”, disse o argentino no final do encontro. Ele não sabia era que o talentoso português seria mesmo o único a roubar-lhe um set na prova nacional.


Nem Soderling nem a chuva o pararam rumo à final

Quando no sábado, dia 23, foram sorteados os Quadros Principais, percebeu-se imediatamente que os quartos-de-final poderiam trazer ao Jamor uma autêntica final antecipada. Robin Soderling vs Juan Martin Del Potro. Os únicos dois tenistas na lista dos jogadores com finais de Grand Slam no seu palmarés.

Tal como Del Potro, Soderling não convenceu a cem por cento na estreia, tendo precisado de três sets para derrotar o francês Jeremy Chardy e o duelo diante do argentino por um lugar nas meias-finais antevia-se como imprevisível, pelo facto de nenhum deles ter um claro ascendente sobre o outro.




Juan Martin Del Potro fez um excelente primeiro set, vencendo por 6-4, mas o único homem a derrotar Rafael Nadal em Roland Garros (foi finalista em Paris em 2009 e 2010) subiu o nível no início do segundo parcial e liderava por 4-1 quando a chuva apareceu de forma intensa no Vale do Jamor. Depois de três horas de espera no confortável Players Lounge do Estoril Open, Del Potro regressou mais forte e jogou de forma fabulosa em todos os pontos importantes. Antes de voltar a sentir o pulso do encontro, Soderling já estava fora de cena. Os tiros do bombardeiro argentino voltavam as fazer das suas.

Mas o encontro dos quartos-de-final não foi o único em que Del Potro teve de lidar com forte pluviosidade. Quando liderava por 4-2 no primeiro set das meias-finais diante do uruguaio Pablo Cuevas (carrasco de Jo-Wilfried Tsonga e Thomaz Bellucci) a chuva voltou a interromper a caminhada do argentino mas ele voltou a ser mais forte que as condições meteorológicas e no regresso venceu o set e o encontro, mesmo perante um oponente a jogar ao seu melhor nível.

Qualidade do argentino banalizou a final

O elenco da final do Estoril Open 2011 era uma dos melhores de sempre, mas Juan Martin Del Potro fez questão de resolver a coisa de forma rápida e de defraudar as expectativas daqueles que ansiavam por um espectáculo longo e equilibrado.



Delpo jogou ao seu melhor nível, errando muito pouco e impondo a sua cadência de fundo do court, e não deu qualquer hipótese a Fernando Verdasco, que depois de um início de época muito irregular procurava no Jamor o primeiro título da temporada. Os parciais (6-2 6-2) e a curta duração do duelo (75 minutos) espelham de forma concludente a justiça do triunfo do argentino, que depois de eliminar Pedro Sousa na estreia passou a ser o grande favorito do público português, que apesar de torcer pelo argentino desejava uma final mais disputada e emocionante. 

“As finais são para ganhar”, disse o jovem de Tandil no final e a verdade é que mesmo que ele não tivesse dito, todos tínhamos percebido depois de ver o que ele fez em court.

Raonic, o menino que sabe fazer mais do que bater recordes



Não foi só o ténis rectilíneo e poderoso de Del Potro e o jogo spinado e trabalhado de Verdasco que apaixonaram os adeptos portugueses ao longo desta semana. Milos Raonic, jovem canadiano que no início da temporada estava fora dos 150 primeiros e que chegou ao Jamor como nº27 ATP, impressionou os adeptos com o seu serviço. O jogador nascido em Montenegro, que este ano tem mais de 400 ases no circuito profissional, sacou a 234 km/h durante o seu encontro das meias-finais, fixando o serviço mais rápido da história da prova e um dos saques mais velozes de toda a temporada tenística.



Desengane-se quem pensa que Raonic só sabe servir. Como bom pupilo do ex-jogador espanhol Galo Blanco, Milos revelou durante a sua estadia no Jamor que sabe ser sólido de fundo do campo, utilizar o slice frequentemente e movimentar-se de forma fabulosa para quem quase 2 metros de altura. E, mais do que isso, é inacreditavelmente calmo para quem tem 20 anos de idade. Impressionante a forma como derrotou Gilles Simon, num encontro interrompido por duas vezes e disputado em dias e courts diferentes. Com o público a torcer incessantemente pelo gaulês (estranho, já que Simon reclamou com público e fotógrafos a cada ponto perdido, parecendo ser ele o jovem em ascensão), Raonic manteve a calma e triunfou mas acabou por ser o seu corpo a não aguentar o excesso de competição e a força-lo a abandonar nas meias-finais diante de Verdasco, num duelo que era muito aguardado depois de Raonic ter derrotado o espanhol por duas ocasiões em Fevereiro.

Gil entusiasmou mas não repetiu 2010

Já se sabia que seria difícil para Frederico Gil repetir o brilharete de 2010. Há 12 meses, o melhor tenista português de sempre fez aquilo que nenhum jogador português havia feito anteriormente: chegar à final de um torneio ATP. A verdade é que foram precisos mais 11 meses para que Frederico voltasse a vencer dois encontros consecutivos em eventos ATP (Monte Carlo) e seria necessária uma nova prestação heróica para que, num quadro tão forte como o deste ano, Gil igualasse a façanha do ano passado. 



E Frederico fez precisamente aquilo que se esperava aquando do sorteio: venceu com relativa facilidade o seu primeiro encontro, diante do perigoso Flavio Cipolla, e lutou muito diante de Fernando Verdasco, mas o espanhol encontrou o seu ténis para vencer em dois sets, por 6-1 7-6(5).

João Sousa conseguiu, três anos depois, voltar a passar uma ronda no Jamor, após bater Gastão Elias num duelo cem por cento nacional, ao passo que Rui Machado confirmou o mau momento de forma e não resistiu ao favorito romena Victor Hanescu. A boa prestação de 2010 também não se repetiu para o algarvio. 

Anabel Medina Garrigues só sofreu já com a taça na mão

Sem oposição à altura, a veterana espanhola Anabel Medina Garrigues, que durante os últimos meses tem passado por alguns dos piores momentos da sua carreira, não deu hipótese à concorrência e somou no Jamor o seu nono título da carreira em terra batida, passando a ser, juntamente com Venus Williams, a jogadora em actividade com maior número de títulos no pó de tijolo.



A valenciana só teve dificuldades na primeira ronda, diante da perigosa romena Simona Halep (venceu em dois tiebreaks) e depois venceu todos os seus restantes encontros em duas partidas relativamente tranquilas (na segunda ronda beneficiou da desistência de Greta Arn após o primeiro set). Com algumas dores nas costas, Medina Garrigues venceu a final diante da alemã Kristina Barrois, por tranquilos 6-1 6-2, e apresentou-se na sala de imprensa quase sem conseguir andar. “Doem-me as costas. Foi a vitória mais dolorosa da minha vida. Está colocado um ponto final num período muito negro para mim. Só eu e o meu treinador sabemos o que eu passei”.

Sem Michelle, Maria esteve perto de dar uma alegria ao público

Michelle Larcher de Brito optou por não jogar o Estoril Open (e foi mesmo finalista num torneio nos Estados Unidos) e colocou nos ombros de Maria João Koehler as maiores expectativas portuguesas no Quadro Feminino. A jovem portuense de 18 anos não conseguiu jogar o seu melhor ténis de forma consistente no seu encontro de estreia, diante da húngara Greta Arn, e as cãibras ainda apareceram na fase final para dar o golpe fatal na portuguesa.



Magali De Lattre e Bárbara Luz também não desprestigiaram o ténis nacional e justificaram, de certo modo, os convites atribuídos por João Lagos. A luso-suíça ainda deu alguma luta no primeiro set à sueca Johanna Larsson (que viria a ser semifinalista), enquanto Bárbara lutou com as armas que tem diante da cotada russa Elena Vesnina (rankeada 1000 lugares acima da tenista de Coimbra).

“Extraordinário sucesso”

A frase é de João Lagos, director do torneio português, que em jeito de balanço revelou que tudo correu bem, mesmo com uma quebra “natural” em cerca de 20 por cento dos bilhetes vendidos.

No final, uma garantia: “sem dúvida que o Estoril Open terá uma 23ª edição e é nossa intenção mantê-lo como torneio misto”. Porque afinal de contas, e tal como também referiu o supervisor ATP Carlos Sanches, os tenistas “adoram vir jogar a Portugal”. E os portugueses também adoram ter o melhor ténis do mundo por perto...

Nota 1: Texto publicado em www.bolamarela.com
Nota 2: Todas as fotos de Miguel Barros, para o www.bolamarela.com

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