quinta-feira, 31 de março de 2011

Visitar Madrid em 5 dias

Cinco dias que transparecem cinco semanas. Visitar uma das capitais europeias num tão curto espaço de tempo afigura-se uma tarefa difícil, mas comprovadamente possível. Os meus pés testemunham-no. Agora, em Portugal, ainda os sinto aos gritos. Madrid é um coração de cultura e de vida.

Há museus, jardins sem fim, construções barrocas, fachadas risonhas e ruas animadas e soalheiras. Há “Venga, Mira, Vale”. Há caminhadas a pé que lutam contra os churros e o chocolate quente de um pequeno-almoço madrileno. Há felicidade, entusiasmo e pequenas vitórias diárias. Desde a descoberta de tapas e pratos típicos até às viagens nos transportes (o mapa do metro de Madrid é um verdadeiro enigma da Esfinge) e ao contacto com novas pessoas, nacionalidades e culturas.

A pergunta impõe-se. O que fazer quando apenas se dispõe de 5 dias para visitar a terra de Cervantes? Absolutamente indispensável: um calçado confortável e uma máquina fotográfica com bateria.


Dia 1, Sábado

Chegar, instalar e desfrutar do primeiro impacto. Agora as placas e a publicidade estão em castelhano. Agora as matrículas dos carros são diferentes. Agora estamos noutra cidade, noutro país e é tempo de conhecer. Já anoiteceu. “Em Madrid é uma hora a mais que em Lisboa, muda o relógio”. Sem perder tempo, a bússola aponta para o centro de Madrid e o plano é sair numa estação central do Metro e andar a pé até sabermos realmente onde vamos passar os próximos dias.

Ninguém trouxe um guia de conversação castelhano, ninguém trouxe um “Top 10 Madrid” nem mesmo um mapa consta na mochila. Estamos pela conta dos nossos pés e de uma grande sede cosmopolita.

É noite de Sábado e não havia melhor dia para sentir la movida madrilena. O bótellon não é um mito e está por toda a parte. Sorridentes e enérgicos – talvez por terem feito la siesta – os madrilenos mostram-se empenhados em fazer desta noite a melhor das suas vidas. Não consegui perceber onde é o espaço boémio por excelência, porque toda a cidade parece estar em festa. Restaurantes, bares, pubs, discotecas, lojas de souvenirs e regalos e até supermercados estão abertos. Afinal não é só Nova Iorque que não dorme.


Dia 2, Domingo

“Ao Domingo os estudantes não pagam nos Museus?”. A aventura no segundo maior sistema de metro da Europa ocidental – o de Londres é o primeiro – continua. A próxima saída é Banco de España, com o destino ao Paseo del Arte, zona conhecida por ter três dos museus mais famosos do mundo – o Museu do Prado, o Museu Thyssen-Bornemisza e o Museu de Arte Reina Sofía.

O Museu do Prado (em baixo) acolhe inúmeras e valiosíssimas colecções. Destacam-se a de escultura e pintura. Apesar da complexidade desta última, que inclui colecções francesas, alemãs e italianas, é a colecção de pintura espanhola que lhe confere o reconhecimento internacional, ao albergar nomes de pintores espanhóis como Velázquez, Goya e José de Ribera.

Já no Museu Thyssen-Bornemisza, resolvi investir o meu tempo no primeiro piso, que contém obras que remontam ao século XX e que vão desde as primeiras vanguardas até à Pop Art. Picasso, Mondrian e Salvador Dalí são nomes incontornáveis da história da arte do passado século e recebem grande atenção por parte dos turistas.

O Museu Reina Sofia, por sua vez, é considerado um dos melhores e mais importantes museus de arte moderna de toda a Europa, destacando, uma vez mais, nomes como Pablo Picasso, Salvador Dalí e também Jean Miró. Guernica de Picasso e O Grande Masturbador de Salvador Dalí são dois dos principais focos de interesse.

Os menos curiosos escolhem um Museu e seguem passeio. Nós ficámos para conhecer os três e assim se perde – ou se ganha – um dia em Madrid.


Dia 3, Segunda-feira

Voltemos ao centro, mais concretamente à Puerta del Sol – passear por esta praça já é praxe – e procuremos a chocolateria San Ginés, na rua Arenal. Aqui pudemos saborear o típico pequeno-almoço madrileno: churros com chocolate.


O coração da cidade – Sol, Gran Vía, Plaza Mayor, Plaza Real, La Latina – ganhou a minha preferência. Podia tentar descrever cada local, mas por mais que me esforçasse nunca lhes ia fazer justiça. Deixo, por isso, apenas os nomes e um breve apanhado sobre o que se pode fazer.


Aqui é o sítio ideal para saborear os pratos típicos (¡sí, tapas!). Aqui pode andar-se horas a fio e conhecer a cada passo um recanto novo, ainda mais acolhedor que o anterior. Aqui vêem-se grupos de amigos em excursão, passeios agradáveis em família, namorados de mãos dadas, casais de terceira idade ainda – e sempre - enternecidos. Aqui é impossível ficar-se indiferente; à cidade, à cultura e, sobretudo, à língua, que cada vez me soa melhor ao ouvido. De repente fazemos parte de tudo isto e o pensamento “eu era capaz de viver aqui” surge, meio inconsequente.


Dia 4, Terça-feira

Preferências clubistas à parte, para qualquer apaixonado por futebol que venha a Madrid, uma excursão ao Estádio Santiago Bernabéu é absolutamente imperdível, bem como uma visita à sala de troféus do Real Madrid. O ideal era assistir a um jogo, mas por falta de sorte só se ficasse cá para a semana. Fica a intenção. ¡Adelante!

À beira-rio (que belo e extenso é o Rio Manzanares), é tempo de aproveitar o penúltimo dia para conhecer a Ciudad Universitaria e ficar a conhecer a Universidade Complutense de Madrid. Caros colegas que ainda ponderam fazer Erasmus, aqui fica uma sugestão para ingressarem numa das mais importantes Universidades de Espanha. Curso? ¡Periodismo!

Para fechar este dia menos cultural, seguimos até ao AZCA – o principal centro financeiro da cidade, no Paseo de la Castellana.


Dia 5, Quarta-feira

Tudo o que é bom acaba rápido, mas acabámos em grande e deixámos para o fim o “pulmão verde” da cidade, também conhecido como Parque do Retiro. O ar puro predomina e o verde é a cor por excelência. Os caminhos são tantos que apelidei este parque de Labirinto do Fauno! As esplanadas convidam a sentar, mas o lago captou quase toda a minha atenção e um passeio de barco tornou-se irresistível.


Por caminhos e vielas, demos com o Palácio de Cristal e com mais um pequeno lago com patinhos. Há bicicletas, faz-se jogging, pratica-se hóquei em patins… E é tudo tão apetecível que juro aqui que se houvesse um em Portugal até eu faria desporto com mais frequência.



É tempo de fazer as malas e seguir para o Aeroporto, em Barajas.

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“Madrid é eu saber pedra sobre pedra e passo a passo como te perdi
é uma cidade alheia sendo minha
é uma coisa estranha e conhecida.”

Ruy Belo

Hasta siempre, Madrid

quarta-feira, 30 de março de 2011

Passos Coelho para primeiro-ministro?

Começo a ter algumas dúvidas sobre se Passos Coelho será o melhor candidato para o difícil cargo de primeiro-ministro deste país. Confesso que nutro alguma simpatia pelo líder do PSD desde o ano passado, quando, em época de eleições, o vi pela primeira vez na televisão. Na altura, tive a impressão de que era um homem sensato. Mas, depois destes últimos meses, já não o vejo com os mesmos olhos. Não depois de ter afirmado estar pronto para governar com o FMI.


A verdade é que entre o Passos Coelho e José Sócrates prefiro o primeiro. No entanto, a possibilidade de, caso o PSD vença as legislativas, termos de enfrentar uma situação muito mais grave assusta-me.
Os irlandeses lembraram-se de fazer um aviso a Portugal sobre o vilão mais temido dos últimos tempos: FMI. No seu editorial, o jornal irlandês Sunday Independent endereçou uma "carta" a Portugal, na qual "desmascara" a suposta ajuda: "não vai tirar o país de dificuldades. Vai prolongar os vossos problemas para as gerações futuras". Vindo do outro lado do Atlântico, o ex-presidente brasileiro Lula da Silva manifestou a mesma opinião sobre o assunto quando disse que "o FMI não é solução" para Portugal.
São avisos destes que me deixam ainda mais preocupada. E são declarações de Passos Coelho como "isso [FMI] já aconteceu anteriormente" que me deixam com o pé ainda mais atrás. A naturalidade com que são proferidas deixam-me a pensar se ele será o homem mais indicado para governar Portugal?


Mikhaela Anjos

segunda-feira, 28 de março de 2011

Godinho Lopes é o novo presidente do Sporting

Os sócios sportinguistas elegeram, no passado sábado, o seu novo presidente: Godinho Lopes. O empresário foi eleito com 36,55 por cento dos votos, contra os 36,15 conquistados por Bruno de Carvalho.

Godinho Lopes, que em 2002 se demitiu da vice-presidência do clube após ter sido detido por suspeitas de corrupção, regressa agora como presidente do Sporting.

A noite eleitoral foi marcada por confrontos entre os adeptos e terminou às 06h00 com a divulgação do nome do novo presidente. Os apoiantes de Bruno de Carvalho contestaram o resultado e o candidato anunciou a intenção de avançar com a impugnação das eleições.  


Sara Cação

A Novela Portuguesa

A novela da política portuguesa está, sem dúvida, longe do fim. Numa altura em que as greves e as manifestações sociais se sucedem, José Sócrates (homem que dispensa apresentações) demite-se.                                                                                                                                                           
Até ao último minuto estive absolutamente convencida de que o primeiro-ministro – agora demissionário – iria voltar com a palavra atrás e alterar o PEC para poder negociar com a oposição. Não foi o que aconteceu. O chumbo do PEC provocou a queda do governo e uma chamada antecipada dos portugueses a votos.                                                                         
Quando ouvi o comunicado que anunciou a demissão do primeiro-ministro, feito pelo próprio, confirmei uma suspeita que vinha já desde o momento em que ouvi este senhor falar, pela primeira vez, em demitir-se. À medida que o discurso acontecia eu ia pensando: este homem é muito mais esperto do que eu pensava. E passo a explicar: cá para mim, Sócrates saiu-se realmente bem.                                                                                                                                           
O comunicado quase que me deixou com pena dele: coitadinho, que foi o único a preocupar-se com o país e a tentar evitar uma crise política, que colocará Portugal nas mãos do FMI. Esse tal discurso, de demissão e de campanha eleitoral, poderá dar ao PS uma vitória nas eleições antecipadas. Coisa que não me desagrada totalmente, uma vez que não considero que o PSD (mais propriamente o seu actual líder) tenha capacidade para gerir o país. Não quero com isto dizer que o PS tem, mas do mal o menos. No fundo, a expressão que aqui encaixa perfeitamente é: entre um e outro venha o Diabo e escolha.                                                               
Vamos aguardar pelo final trágico que para nós se desenha.

Sara Cação

domingo, 27 de março de 2011

Sócrates é reeleito por esmagadora maioria

Fora do Partido Socialista, as opiniões sobre o nosso Primeiro-ministro demissionário são muito divergentes. Mas, dentro do partido, o cenário é bem diferente: há um consenso positivo sobre a capacidade de liderança de José Sócrates. O líder do PS obteve 93,3% dos votos, mais do que em 2009.
Isto põe-nos a pensar no futuro: será que Sócrates terá o prazer de comemorar outra vitória nas próximas eleições legislativas?

Mikhaela Anjos

sábado, 26 de março de 2011

Sporting vota hoje no novo presidente

Acabou a festa. Depois de semanas de comédia e garagalhadas a ouvir os argumentos e a constatar as atitudes dos candidatos à presidência do Sporting Clube de Portugal, eis que chega o dia em que os sócios vão finalmente decidir qual dos cinco senhores abrirá um novo ciclo para um dos maiores clubes portugueses.

Godinho Lopes, Bruno de Carvalho, Dias Ferreira, Pedro Baltazar ou Abrantes Mendes?

Como terminará esta Odisseia?

José Miguel Morgado

quarta-feira, 23 de março de 2011

Caiu mesmo...

Primeiro-ministro demite-se. 

Mas isto está longe de terminar.

Dois dias, duas perdas

O cinema português e internacional estão de luto. Em apenas dois dias, foram perdidos dois grandes nomes.

"Gostava de ser lembrado assim: morreu um gajo porreiro", Alta Definição (2010)
Artur Agostinho, uma das maiores referências da rádio e cinema em Portugal, faleceu ontem aos 90 anos de idade com um ataque cardíaco. Um dos grandes nomes do jornalismo lusitano, Agostinho foi também a "estrela" do filme Leão de Estrela, um filme de 1947 incontornável na história do cinema português.
Locutor de rádio e um excelente escritor, Artur Agostinho ainda participou em várias séries e novelas televisivas, assim como em anúncios.

Um revolucionário assumido, publicou este mês um livro chamado Flashback - Uma História de Vida Real, onde narra as suas experiências pessoais nos tempos difíceis da construção da Democracia portuguesa, há 37 anos.

Às numerosas distinções e Prémios de Carreira que lhe têm sido atribuídos, recebeu em 2010 o “Globo de Ouro/Mérito e Excelência pela SIC e a revista "Caras", e também a Comenda da Ordem Militar de Santiago da Espada, atribuída pelo Presidente da República, Cavaco Silva.

"É muito estranho que os anos nos ensinem a ter paciência - que mais curto o nosso tempo, maior a nossa capacidade de espera", A Wreath of Roses (1987)

Hoje, faleceu a premiada actriz anglo-americana, Elizabeth Taylor - um dos últimos ícones de Hollywood. Tinha 79 anos e era conhecida por ser uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos.

Iniciou-se como actriz em criança, com apenas 10 anos, através do filme There's One Born Every Minute.
Taylor desempenhou a famosa personagem Cleópatra no filme com o mesmo nome. No entanto foi com os Óscares de Melhor Actriz que recebeu da Academia com os filmes Quem tem medo de Virginia Woolf (1967) e Butterfield 8 (1961) que a actriz foi aclamada pela crítica.

Nos anos 80, foi pioneira na doação de fundos para causas solidárias e campanhas de apoio às vitimas da Sida, tendo criado inclusive uma associação chamada The Elizabeth Taylor AIDS Foundation em 1991.

Internada há 2 meses num hospital americano, Elizabeth Taylor morreu vítima de insuficiência cardíaca.

A contribuição de ambos para a cultura e a sociedade em que nos encontramos hoje, foram, de facto, um marco na história. Resta-nos um agradecimento e desejar que descansem em paz.

What Did You Expect From The Vaccines?

Mais uma vez uma banda inglesa tomou de assalto a cena musical indie. Estou a falar dos londrinos The Vaccines.
A banda só lançou o seu primeiro álbum, What Did You Expect From The Vaccines?, no passado dia 14 de Março, mas já fez correr muita tinta desde o último Verão. Apontado como a “próxima grande coisa” de 2011, o quarteto britânico conseguiu manter o hype à sua volta com os singles que foi lançando desde o ano passado.
What Did You Expect From The Vaccines? não tem um começo muito feliz. A batida ritmada e o verso em francês, que conquistaram os críticos e catapultaram os Vaccines para a ribalta, não me convenceram de que eles seriam mesmo "os salvadores do rock". Mas, logo a partir da segunda faixa, “If You Wanna”, o álbum começa a tomar uma boa direcção, embora surjam alguns altos e baixos pelo caminho.
Com um som directo e sem complicações, os ingleses The Vaccines são bem sucedidos, especialmente a meio do álbum, onde alcançam o êxtase com “Post Up Break-Up Sex”. Depois de um momento inicial algo triste e deprimente - mas não no mau sentido - figurado no trio “A Lack Of Understanding”, “Blow It Up” e “Wetsuit”, surge da nostalgia a electrizante “Norgaard”. Segue-se outro momento mais calmo que inesperadamente é quebrado pela contagiante “Wolf Pack”.
Com músicas quase sempre curtas e muito ritmadas, o vocalista, com uma voz que lembra a do Paul Banks (Interpol), sobretudo nas músicas em que a linha de baixo sobressai, canta sobre relacionamentos e separações, algo que até na capa do álbum transparece. Os refrões, fáceis de cantar, ficam no ouvido logo após a primeira audição.
O que esperávamos dos Vaccines? Algo extraordinário, com certeza, uma vez que estávamos perante "os salvadores do rock". Contudo, What Did You Expect From The Vaccines? não passa de ordinário e mostra o quão injusto é o rótulo "salvadores do rock". Sim, o álbum é bom, electrizante, divertido... mas é só isso. 



Mikhaela Anjos

Cai ou não cai?

É a pergunta que todos colocam.

Quarta-feira, 23 de Março: o Parlamento vota o Plano de Estabilidade e Crescimento, proposto pelo Governo. Partidos da oposição antecipam o chumbo e mostram-se inflexíveis para negociar. José Sócrates diz que não terá condições para continuar sem o documento aprovado. Passos Coelho fala em campanha eleitoral. Paulo Portas esfrega as mãos. Jerónimo e Louça sorriem ao espelho.

Crise política? Sim. Fim de um ciclo? Veremos.

Vai ser um dia animado.


José Miguel Morgado

segunda-feira, 21 de março de 2011

Nuno Gomes continua imparável

Uma semana depois de publicar um crónica reflectindo sobre as poucas oportunidades que Nuno Gomes tem tido na equipa do Benfica, eis que o capitão entra, joga 11 minutos e marca... dois golos.

Nuno Gomes em 2010/2011: 77 minutos oficiais, 5 golos, 2 assistências. Merecia mais.

Ele está mesmo vivo!


José Miguel Morgado

domingo, 20 de março de 2011

Godard e o Socialismo

Film Socialisme de Jean-Luc Godard, é o que se pode chamar um filme-ensaio, apelando ao pensamento e à reflexão a partir de imagens. Lançado em 2010, foi apresentado (como seria de esperar) na secção Un Certain Regard do festival de Cannes do mesmo ano, mas só recentemente chegou a Portugal.
O filme faz uma crítica pouco subtil ao capitalismo actual e as suas fragilidades desde a época áurea do mercantilismo.

Godard põe à prova a questão do consumismo: a história desenrola-se num cruzeiro no Mediterrâneo em que os seus passageiros se interessam mais sobre o lazer e a estética no barco, do que propriamente sobre locais a serem visitados. Paralelamente é retratada a história de uma repórter de imagem e uma jornalista, pouco afáveis, que investigam à força a propriedade de uma família. Pode estar aqui presente um fio sarcástico que é característico de Godard, ao vermos a criança da família vestir uma camisola da União Soviética.
Sem antes ter visto qualquer filme de Godard, quando fui ver Film Socialisme há duas semanas, este surpreendeu-me pela razão mais óbvia: os cortes entre as várias cenas e talvez uma espécie de falta de coesão aparente entre as história do filme. Mas para além destas mudanças quase frenéticas das cenas, a imagem de gravação do próprio filme variava: ia desde a câmara simples de um telemóvel até ao full hd das câmaras actuais.

É certo que os filmes de Jean-Luc Godard já não vislumbram cinéfilos mais exigentes como o fez outrora, com os clássicos À bout de souffle ou Vivre Sa Vie que marcaram a Nouvelle Vague. Mas Filme Socialisme consegue manter-se identificativo do estilo de Godard. Inquieto, alusivo, provocador e visualmente apelativo. Uma retrospectiva não-obvia do que assiste na sociedade actual - a crise de valores humanos e a sobrevalorização de valores clichés e supérfluos.

Outro destaque vai para a música predominante no filme (suponho ser de Arvo Part) que apesar de poder dar a sensação de ser repetitiva, adapta-se bastante bem a todas as cenas do filme e na sua intensidade.

Mais que perceber o tema e a história, Film Socialisme permite que os espectadores reflictam e tirem as suas próprias conclusões das diversas intenções que o filme traz para quem o vê.

Confere o trailer em baixo:

Adidas is all in

Miguel Oliveira estreia-se no Mundial de Motociclismo

Miguel Oliveira inicia este domingo, no Qatar, a primeira época de um piloto português no Mundial de Motociclismo.

O piloto natural de Almada, de apenas 16 anos de idade, começa a cumprir o seu sonho de criança a partir das 16 horas portuguesas de domingo, momento em que arranca no Médio Oriente a prova de 125 centímetros cúbicos, na qual o português está inserido.

Neste sábado, Oliveira alcançou o 12º tempo da qualificação e vai partir da quarta fila da grelha de partida, de uma competição que contará com 30 pilotos. O piloto luso mostrou-se contente com o resultado: "Este resultado é bastante positivo e neste circuito esta posição não difere muito do nosso objectivo, está dentro das nossas previsões", afirmou Oliveira.

A prova poderá ser acompanhada em directo na Sporttv3.  


José Miguel Morgado

segunda-feira, 14 de março de 2011

Projecto a solo de Alex Turner

Há já uns bons meses que anseio pelo quarto álbum dos Arctic Monkeys. Mas, enquanto o tão aguardado – pelo menos por mim, mas duvido que eu seja a única a desejar tê-lo em mãos o mais depressa possível – Suck it and See não chega às lojas, contento-me com a banda sonora do filme “Submarine”, que chegou ao mercado precisamente hoje, escrita e gravada pelo vocalista dos Arctic Monkeys, Alex Turner.
Acabei de ouvir as seis músicas da banda sonora e só consigo, num tom muito desiludido, perguntar “já acabou?”, ao que se segue um “quero mais!”. A desilusão, como já devem ter percebido, só se deve ao facto de o EP ter uma duração de escassos minutos - uma percepção, completamente ilusória, de uma fã sedenta de mais músicas novas. É mesmo só por isso porque, em termos musicais, o rapaz não me desiludiu, só para não variar.
As melodias simples e calmas e a voz sedutora do Alex Turner envolvem-nos num ambiente introspectivo – pelo menos foi assim que eu me senti. E as letras são simplesmente poéticas, como já é hábito na escrita do líder dos Arctic Monkeys.
Este “retorno” da complexidade das letras deve ter acalmado muitos dos fãs que entraram em alvoroço há alguns dias, depois de a banda ter lançado a primeira faixa do Suck it and See, que foi criticada pela sua simplicidade.
Apesar de ter acabado de ouvir o EP, já tenho duas faixas de que gosto muito: “Stuck On The Puzzle” e “Piledriver Waltz”, que fogem um pouco à balada acústica predominante em todo o EP. A primeira é, sem dúvida, a minha preferida, talvez por me lembrar um pouco uma música do último álbum dos Arctic Monkeys. Já "Piledriver Waltz", além de ser  muito ao estilo de Humbug, como a primeira, faz parte do sucessor deste, o que aumenta ainda mais as minhas expectativas para esse longa duração. Das baladas, acho que "It's Hard To Get Around" tem a melhor letra.
Depois de três álbuns pelos Arctic Monkeys, não sei quantos Eps, muitos singles, um projecto paralelo (The Last Shadow Puppets), este poeta da nova geração, assim apelidado por alguns críticos, conseguiu, mais uma vez, contribuir para a felicidade de muitas pessoas.






Mikhaela Anjos

Ele ainda está vivo!

Sempre considerei o  Nuno Gomes um dos jogadores mais subvalorizados do futebol português. O avançado de Amarante, agora com 34 anos, é o quarto melhor marcador da história da selecção nacional e o segundo com maior média de golos marcados por minuto com as cores nacionais. Ao serviço do Benfica está também no top 10 dos maiores goleadores do clube, já tendo apontado quase 200 golos, 146 deles no campeonato.

O 146º tento do agora capitão encarnado foi conseguido ontem à noite no Estádio da Luz, evitando a derrota do Benfica diante do Portimonense, último da classificação da Liga Zon/Sagres. Nuno entrou aos 70' e oito minutos depois já estava a compensar a (rara) aposta de Jorge Jesus, fazendo o seu terceiro golo da temporada em apenas 75 minutos de utilização. Sim, 75 minutos em campo durante quase uma temporada inteira.

É perfeitamente normal que Nuno Gomes não seja titular da equipa principal do Benfica. Os seus 34 anos não mentem e as suas qualidades físicas estão longe daquelas que apresentou nos seus tempos áureos. O plantel do Benfica apresenta soluções mais seguras, como Cardozo, Saviola e até Jara, que têm assegurado (melhor ou pior) a frescura do ataque encarnado. 

O que não se percebe é como é que um jogador com a sua qualidade (nem sequer a precisa de demonstrar com os golos recentes) e com o seu amor ao clube (que é traduzido em atitude extra dentro relvado) joga apenas 75 minutos em sete meses numa equipa que joga em quatro competições e que, por essa razão, é forçada constantemente a dar algumas hipóteses aos elementos menos utilizados.  

A partida de ontem à noite foi somente a quarta com a participação do internacional português, que ao longo dos últimos dois anos tem sido relegado para a condição de última opção (num lote de 5, por vezes 6 avançados). Kardec e Weldon são melhores do que ele? Não de todo. 75 minutos ao longo de uma época são razoáveis? Não me parece.

Ao longo de toda uma época, a elegância do capitão foi notável e neste domingo à noite, após salvar a equipa de uma derrota humilhante, manteve uma humildade pouco habitual num consagrado como ele. "Sou mais um no plantel. Vou continuar a aproveitar o pouco tempo que jogo para mostrar que estou vivo." E está mesmo...


José Morgado

domingo, 13 de março de 2011

Nunca Me Deixes

O filme "Nunca Me Deixes" estreou nas salas de cinema portuguesas na semana passada. Baseado no romance homónimo de Kazuo Ishiguro, que foi considerado o melhor livro de 2005, o filme conta a história de três amigos, que foram criados para um único propósito, ao qual não podem escapar.


A acção, narrada por Kathy (Carey Mulligan), tem início no colégio de Hailsham, onde os alunos não têm qualquer contacto com o mundo exterior, que temem devido a histórias falsas que lhes são contadas. Com a chegada de uma nova professora, é-nos revelado que os alunos de Hailsham são clones criados com o objectivo de no futuro doarem órgãos aos seus “originais”. Manter os alunos protegidos e saudáveis são, então, as principais preocupações dos professores.
Durante os anos em Hailsham, Kathy, Tommy (Andrew Garfield) e Ruth (Keira Knightley) tornam-se grandes amigos. Kathy aproxima-se de Tommy e logo se apaixona por ele, mas Ruth, com inveja, intromete-se na relação e envolve-se com o rapaz.

Aos dezoito anos, os alunos deixam o colégio para viverem no mundo exterior. Os três amigos são enviados para o mesmo lugar, onde se deparam com uma realidade bem diferente da que tinham imaginado. Fora de Hailsham, a atmosfera onírica desaparece para dar lugar a indignações, dúvidas e tensões, quem acabam por dividir o triângulo amoroso.


O enredo de "Nunca Me Deixes" desenrola-se sob uma atmosfera pesada e emocional. No enleio dos seus sentimentos e dúvidas, as personagens tentam descobrir o que são, se podem ser mais do que aquilo que lhes disseram que são e se é possível adiar o seu inevitável destino.
Apesar de todas as dúvidas e revoltas, a aceitação da morte, embora está não seja desejada, está presente. A hipótese de fugir à vida que lhes foi destinada nunca é pensada. Apenas sonham com a possibilidade de adiar a morte para poderem viver mais alguns anos com aqueles que amam talvez porque nunca tiveram uma relação na qual pudessem espelhar a sua. Só se deseja aquilo que se conhece e eles não conheciam uma vida longa, feliz e incondicionada.
As interpretações foram bastante boas. Do pequeno elenco, a interpretação da Carey Mulligan foi a melhor, para mim. O Adrew Garfield, num papel bem diferente daquele interpretou em "A Rede Social", brilhou no fim do filme, numa cena muito emocionante.


Mikhaela Anjos

À rasca!

Desde que existo, ouço falar de crises económicas e sociais em Portugal. Até agora, esta ideia não tinha sobre mim um efeito notório. Porém, dada a minha actual condição de estudante do ensino superior, sucedem-se arrepios e suspiros desesperados quando me vem à cabeça a ideia de um futuro como trabalhadora precária ou, mais desconcertante ainda, desempregada. À medida que começo a escrever, quase que salto da cadeira de tanta irritação.                                                                                                         
A reacção de todos aqueles que me questionam sobre a minha escolha quanto ao curso superior é consensual. “Escolheste jornalismo? Coitada. Mais uma desempregada”. Esta expressão seguida de um olhar de resignação perante o futuro irrisonho que para mim se desenha tem sido habitual.                                                                     
Sucedem-se, na televisão, histórias de jovens que, após a licenciatura, permanecem em casa dos pais, enquanto procuram, incessantemente mas sem sucesso, emprego. A situação vai convergindo num momento de desespero à medida que as portas se fecham até que se torna imperativo pensar na solução à qual se pretende fugir até não haver outra hipótese: ir para o estrangeiro. Sucedem-se os hinos de luta contra a situação da já conhecida como “Geração à rasca” e os apelos para manifestações daqueles que, tal como eu, sentem uma vontade efervescente de lutar contra a maré. Parecem estar a dar resultado.
A perplexidade toma-me quando vejo ou ouço as notícias que se repetem sobre jovens que abandonam a universidade por não terem capacidade para pagar as propinas. Lamento. E fico a pensar: afinal estava errada quando pensava que a educação era para todos. Chegaremos nós ao ponto em que alguém que tenha possibilidade de frequentar o ensino superior seja considerado um privilegiado ou rico? Temo esse dia, eu e mais milhares de jovens que desejam formar-se e que terão, no futuro, a vida pouco facilitada
Depois da manifestação da geração à rasca no passado sábado, não me atrevo a apelidar de passiva a intervenção dos jovens. Estamos dispostos a lutar pelo nosso futuro e pelo nosso país. Esta nossa vontade de mudança mostra que, afinal, já fomos mais parvos.


Sara Cação