domingo, 13 de março de 2011

À rasca!

Desde que existo, ouço falar de crises económicas e sociais em Portugal. Até agora, esta ideia não tinha sobre mim um efeito notório. Porém, dada a minha actual condição de estudante do ensino superior, sucedem-se arrepios e suspiros desesperados quando me vem à cabeça a ideia de um futuro como trabalhadora precária ou, mais desconcertante ainda, desempregada. À medida que começo a escrever, quase que salto da cadeira de tanta irritação.                                                                                                         
A reacção de todos aqueles que me questionam sobre a minha escolha quanto ao curso superior é consensual. “Escolheste jornalismo? Coitada. Mais uma desempregada”. Esta expressão seguida de um olhar de resignação perante o futuro irrisonho que para mim se desenha tem sido habitual.                                                                     
Sucedem-se, na televisão, histórias de jovens que, após a licenciatura, permanecem em casa dos pais, enquanto procuram, incessantemente mas sem sucesso, emprego. A situação vai convergindo num momento de desespero à medida que as portas se fecham até que se torna imperativo pensar na solução à qual se pretende fugir até não haver outra hipótese: ir para o estrangeiro. Sucedem-se os hinos de luta contra a situação da já conhecida como “Geração à rasca” e os apelos para manifestações daqueles que, tal como eu, sentem uma vontade efervescente de lutar contra a maré. Parecem estar a dar resultado.
A perplexidade toma-me quando vejo ou ouço as notícias que se repetem sobre jovens que abandonam a universidade por não terem capacidade para pagar as propinas. Lamento. E fico a pensar: afinal estava errada quando pensava que a educação era para todos. Chegaremos nós ao ponto em que alguém que tenha possibilidade de frequentar o ensino superior seja considerado um privilegiado ou rico? Temo esse dia, eu e mais milhares de jovens que desejam formar-se e que terão, no futuro, a vida pouco facilitada
Depois da manifestação da geração à rasca no passado sábado, não me atrevo a apelidar de passiva a intervenção dos jovens. Estamos dispostos a lutar pelo nosso futuro e pelo nosso país. Esta nossa vontade de mudança mostra que, afinal, já fomos mais parvos.


Sara Cação 

Sem comentários:

Enviar um comentário